Ação franciscana de enfrentamento à fome nas ruas chega a marmita de 1 milhão no dia 27/10, quando lança também relatório com retrato da fome na pandemia.
Depois de alimentar quase 5 mil pessoas por dia nas ruas do Rio de Janeiro e São Paulo por sete meses, os freis do Serviço Franciscano de Solidariedade (SEFRAS) realizaram um ato para doar a refeição de número 1 milhão. O evento também foi palco do lançamento do relatório “A Fome Como Prato Principal”, que faz um retrato da fome durante a pandemia e aponta para uma agenda pública para o seu combate.
“No início do isolamento, decidimos não fechar nossas portas para acolher, cuidar e defender aqueles que mais precisavam, como a população em situação de rua e de desemprego nas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro. E nos deparamos com o cenário dramático da fome, que veio antes da febre da Covid-19”, lembra o frei José Francisco de Cássia, diretor-presidente SEFRAS.
Segundo ele, a procura por alimento era tão grande, que os freis montaram emergencialmente uma tenda de doação de marmitas no Largo São Francisco, no centro de São Paulo. Foi o início de uma ação de enfrentamento à fome, que chegou a alimentar 6 mil pessoas diariamente e, no dia 27/10, completou 1 milhão de refeições distribuídas.
Com 2 tendas franciscanas – uma segunda foi erguida no Largo da Carioca (centro do Rio de Janeiro) –, cinco cozinhas sociais e outros seis polos de distribuição de alimentos, que incluíram 22 mil cestas básicas e kits de higiene e proteção, a Ação Franciscana de Enfrentamento à Pandemia foi uma resposta à emergência social, que está na base do SEFRAS como organização humanitária.
Embora fosse uma ação de emergência, os impactos duradouros da pandemia, em relação à desigualdade de renda e aumento da pobreza nos grupos já vulneráveis, demonstraram que a fome é um fator a ser combatido com ações de médio e longo prazo. “A alimentação passa, então, a ser o eixo principal de atuação dos franciscanos do SEFRAS, em especial aos nosso públicos de atendimento: população em situação de rua, imigrantes e refugiados, idosos sozinhos e crianças de comunidades pobres e ocupações”, garante o Frei José Francisco.
Ato Simbólico – Entrega da Refeição de 1 Milhão
De maneira simultânea, nas Tendas de São Paulo e do Rio de Janeiro, foi realizado o ato simbólico de entrega da refeição de número 1 milhão. No Largo de São Francisco, centro da capital paulista a Tenda recebeu a Secretária Berenice Giannella da Secretaria Municipal de Assistência Social – SMADS, a Secretária Claudia Carletto da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania, o Ministro Provincial Frei César Külkamp, OFM e o Vigário Provincial Frei Gustavo Medella, OFM da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, o Padre Júlio Lancellotti – Pastoral do Povo da Rua e da Silvia Salgado representando todos parceiros, voluntários e doadores.
Já no Largo da Carioca, centro da capital fluminense, o ato contou com a participação das chefs Flavia Quaresma uma das chefs mais importantes do Brasil, da chef Anna Ribeiro, líder da cozinha do Gastromotiva (organização social parceira do SEFRAS), do chef Frederic Monnier, representando a gastronomia e a comunidade francesa e do chef e do jovem chef João Diamante que além dos restaurantes administra o projeto social Diamantes na Cozinha.
“A solidariedade que presenciamos durante todos esses meses provam que um grande número de pessoas está disposto a acolher, a cuidar e defender dos mais desvalidos, dos mais invisíveis. É essa solidariedade que também nos move e que vale vidas”, considera o Frei José Francisco.
Relatório Os sete meses de intenso trabalho e aprendizados deram origem ao relatório “A Fome Como Prato Principal – Um retrato do enfrentamento à fome durante a pandemia no Brasil”. “Mais do que um recorte sobre o trabalho franciscano no período, o documento é um chamado à ação, um compromisso que pode ser assumido por todos no combate à fome”, afirma Fabio Paes, coordenador de Desenvolvimento Institucional do SEFRAS.
O relatório traz um Mapeamento de Boas Práticas na produção de alimentos e no acesso a estes ao longo da pandemia, pesquisas recentes sobre o cenário da insegurança alimentar no Brasil e no mundo. Some-se a isso, depoimentos de representantes de comunidades quilombolas e de pequenos agricultores no interior do Brasil, que mostram como a fome tem atingido esses grupos, e as análises da socióloga Regina Novaes, de Frei Betto, da historiadora Adriana Salay Leme e do coordenador do Movimento Fé e Política, Selvino Heck.
Um dos grandes destaques da publicação, no entanto, é o lançamento da Frente Nacional de Erradicação da Fome, que será formada por diversos setores da sociedade, como movimentos sociais, chefs renomados, intelectuais, gestores públicos e organizações não governamentais. Todos são bem-vindos na Frente e quem tiver interesse em fazer parte, basta acessar www.fomebr.org.br.
Espera-se que esse grupo, liderado pelos franciscanos, contribuam para o Relatório Popular Alternativo sobre o Enfrentamento à Fome no Brasil, que fará um balanço anual sobre o tema no país a partir de 2021.
Para lançar o debate que o relatório propõe foi realizada uma Live com a participação da historiadora Adriana Salay Leme; do Deputado Federal líder no Congresso da Frente Parlamentar contra à fome, Célio Moura, da Gerente de Programas & Incidência da OXFAM Brasil, Maitê Gauto; da antropóloga Regina Novaes e da jornalista e redatora Evanize Sydow. O debate foi mediado pelo Fábio Paes (SEFRAS).
Galeria Confira os registros dos momentos realizados em São Paulo e no Rio de Janeiro.
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