
No dia 25 de Maio, quarta-feira, Janaina Porto, coordenadora da Tenda Franciscana do Rio de Janeiro, recebeu Moção de Louvor e Reconhecimento da Câmara Municipal do Rio de Janeiro pelo seu trabalho realizado no serviço. Frente tal reconhecimento, fomos conversar com Janaína para saber um pouco mais sobre sua história e trajetória profissional.
A moção que recebeu, destacou seu comprometimento ético-político e resistência na luta para combater as desigualdades sociais na cidade. Ainda, foram exaltados seus objetivos de atuação em múltiplas expressões da questão social, e tida como insubstituível nas mais diversas áreas de caráter socioeducativo e de prestação de serviços.
Quantos anos tem? Há quanto tempo trabalha com assistência social?
J: Eu tenho 40 anos, me formei em Serviço Social no ano de 2004, ou seja, há 18 anos. Desde então atuo na área.
Qual foi a motivação que fez com que trabalhasse com pessoas em situação de vulnerabilidade?
J: O que me fez querer trabalhar com as pessoas em vulnerabilidade foi a vontade de querer, de alguma forma, contribuir para intervir na realidade dessas pessoas que têm dificuldade de acessar algumas políticas públicas. Como educação, saúde, assistência, moradia, habitação etc. A princípio, queria ser socióloga, porém depois procurei o Serviço Social, pois queria ter um poder de intervenção maior.
Como conheceu o SEFRAS?
J: Eu era coordenadora do Núcleo de Atendimento à Criança Vítima de Violência da Fundação da Infância e Adolescência [FIA], na baixada do Rio de Janeiro. Conhecia uma assistente social que trabalhava no SEFRAS. Ao contar a história da minha vida, ela contou de um processo de seleção no SEFRAS e indicou meu nome.
Quanto tempo você está trabalhando no SEFRAS?
J: Eu atuo como coordenadora do SEFRAS desde agosto de 2021. É uma experiência desafiadora, mas maravilhosa. Porque trabalhar com a população em situação de rua é trabalhar com todas as dimensões de um ser humano. É trabalhar com todas as políticas públicas que eles menos acessam, é garantir para eles um acolhimento através do acesso a direitos fundamentais (alimentação, acesso à assistência social, ao atendimento jurídico)

Pode contar um pouco da sua experiência no serviço?
J: Na Tenda não oferecemos apenas alimentação. Ainda realizamos o trabalho de atendimento junto do serviço social e da rede socioassistencial do centro do rio (CRAIS, CREAS, Conselho Tutelar, Defensoria Pública, Consultório de Rua, e Organizações da sociedade civil).
Realizamos no sentido de encaminhá-los, mas também de se fortalecer enquanto instituição. Junto da rede e de fóruns e conselhos, atuamos no sentido de pensar nas políticas públicas que são destinadas à população em situação de rua. De pensar, questionar, pedir a execução delas. Assim, temos ainda o trabalho de advocacy, de fortalecimento da rede institucional e de se pensar políticas públicas.
Quais os principais desafios superados ao longo da sua gestão?
J: Os principais desafios que enfrentamos aqui é não ter o próprio espaço ainda, para desenvolver o que é preciso para atender a população em situação de rua na cidade do Rio de Janeiro. Mas para superar isso lançamos agora a Campanha Cidade Maravilhosa – Doe R$1. Quanto a isso, ainda temos o projeto de fortalecer a equipe que já existe atualmente na Tenda, para que seja um ótimo grupo de profissionais para ocupar o próximo espaço que está por vir.
Ainda temos que lidar com o desmonte de políticas públicas para população de rua no Rio de Janeiro. Precisamos todos os dias batalhar junto deles para que tenham acesso a essas políticas e os direitos humanos mais básicos de qualidade que todo ser humano tem que ter, como alimentação, banho e moradia.
Há alguma história que te marcou durante seu trabalho na Tenda?
J: Há duas principais histórias que me marcaram desde que assumi a coordenação da Tenda. Um dia, apesar de termos distribuído 400 quentinhas, algumas pessoas ficaram sem. E uma delas chegou pra ela pedindo uma, mas não tínhamos mais nenhuma para dar, e a pessoa relatou fisicamente como a dor da fome no estômago. Na Tenda tinha a única esperança para uma única refeição naquele dia, pois não havia tomado café da manhã e não tinha conseguido almoçar, e não ia jantar. Naquele dia descobri que a fome dói no corpo e na alma.
Também teve um dia em que estava na Tenda e tinha uma poça d’água próxima, pois havia chovido no dia anterior. E um senhor estava com sabonete e foi tomar banho na poça d’água. Ele almoçou com a gente e foi tomar banho na poça. Porém não conseguiu se lavar direito e ficou cheio de sabão.
Essas ocorrências me mostraram que não lidamos só com a fome, mas sim com a miserabilidade do ser humano. Quando o ser humano tem o mínimo do mínimo dói muito.
O que a moção significa pra você, tanto pessoal quanto profissionalmente?
J: A moção para mim representa um reconhecimento dos 18 anos que trabalhando na assistência social. Não só com população em situação de rua e gestão de uma equipe, mas todos os anos que já tenho de trabalho contra a violência contra criança, de empoderamento comunitário, de violência de gênero/contra mulher.
Para mim, essa moção me fortalece enquanto pessoa e, principalmente, fortalece enquanto profissional. E me faz ter a esperança de que vale a pena lutar todos os dias para que essas pessoas tenham acesso aos direitos sociais e direitos humanos que está garantido na constituição de 1988 e no SUAS (sistema único de assistência social).
Cidade Maravilhosa para Todos – Doe R$ 1

A Campanha “Cidade Maravilhosa para Todos – Doe R$ 1” surge com o objetivo de transformar o projeto emergencial da Tenda Rio em um projeto permanente e estruturado. Seu objetivo é contribuir com a captação de recursos para o financiamento da iniciativa de acolhimento da população de rua carioca: a Casa Franciscana.
O serviço funcionará de domingo a domingo e, para além do fornecimento de refeições e banhos, ainda contará com: acolhimento e articulação com a rede pública para encaminhamentos; atividades socioeducativas para inserção social e econômica; e reinserção familiar. Com o novo serviço busca-se realizar 30 mil atendimentos por mês, sendo mil atendimentos todos os dias.
Segundo o Frei José Francisco, diretor-presidente da organização, “o Papa Francisco nos convoca restaurar a dignidade dos mais vulneráveis e zelar pela esperança. Por isso, a ideia central da campanha é engajar a sociedade civil carioca, individual e coletivamente, em prol do resgate dos sonhos dessas pessoas. Convidando todos a doarem ao menos R$ 1, por dia, por mês, de uma única vez ou da forma que for mais adequado a suas possibilidades, mas sem deixar de olhar para os mais necessitados”.
As doações podem ser feitas através do pix ou pela plataforma online. Todo e qualquer valor é aceito e será muito bem-vindo!
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