Na semana em que se comemora o Dia Mundial da Saúde, que é celebrado em 7 de abril, o SEFRAS Casa de Clara promoveu uma discussão com os participantes e funcionários do serviço para falar sobre o processo de envelhecimento natural. Parte deste desconhecimento se deve ao fato de que falar sobre o envelhecimento em nossa cultura é um tabu. O envelhecimento é combatido em todas as rotinas estéticas, procedimentos cirúrgicos e agentes anti-idade, propagandas associadas à felicidade de uma juventude eterna e possível. Construindo dessa forma, através do acesso de quem pode pagar uma ideia de que envelhecer é um erro, um problema, um mal a se combater.
Segundo a coordenadora do serviço, Cássia Migliorini, a discussão teve inicio a partir deste ponto, mostrando para os idosos a realidade brasileira e os números envolvidos com a mortalidade de populações mais vulneráveis como transexuais e mulheres negras. “Percebemos como envelhecer de forma saudável ainda é um privilégio nas mãos de poucos. Percebemos que através da precarização da educação básica, nossos idosos acabam perdendo espaço no mercado de trabalho em um país que está diminuindo suas taxas de natalidade e aumentando a população idosa. Sem contar que ainda são retirados direitos básicos ligados à previdência e benefícios da população idosa, pedidos como um sacrifício para recuperação da economia brasileira, ao invés de taxar grandes fortunas, por exemplo”, destaca.
Para ela, é muito importante falar sobre esse assunto com os idosos, uma vez que a resposta está no corpo. “No corpo-político idoso que vê refletido em si as incapacidades que a sociedade quer lhe imputar. E ainda tem que lidar com o real decréscimo de suas funções físicas somadas ao desconhecimento. Seria a velhice saudável possível? Por aqui concordamos que sim, porém sem nunca deixar de lutar por seus direitos”, frisa.
Para finalizar a discussão, foi realizado um trabalho onde eles puderam percorrer os sentidos do corpo e aprender com suas próprias limitações. “Colocamos em cheque alguma indagações para os participantes refletirem. O que está acontecendo com meus olhos? Minha pele ficou tão fina porquê? A saúde é possível com essas doenças crônicas? E as perguntas são inúmeras, necessitam de escuta e paciência porque às vezes nem conseguem ser elaboradas.
No fundo tudo isso é uma revisão de nossas próprias fragilidades e uma grande prova de coragem ao permitir que se encare as limitações de forma amorosa e solidária. Queremos acesso aos serviços de saúde e às políticas públicas, queremos construir uma velhice saudável e que não seja lucrativa para os planos de saúde e para a indústria farmacêutica. Por uma velhice produtiva e sem miséria, com cidades acessíveis e educação para que o país compreenda seu próprio corpo-político envelhecendo sem medo.
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