Da rua à sala de aula: como o Sefras ajudou Elicarla a conquistar a universidade
- Melissa Galdino
- 18 de ago.
- 2 min de leitura

Aos 44 anos, Elicarla vive um dos momentos mais marcantes de sua trajetória. Depois de 10 anos em situação de rua, ela acaba de conquistar uma vaga no curso de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com bolsa de estudos. A notícia não é apenas uma vitória pessoal: é também um símbolo do que a vida pode se tornar quando existem políticas públicas, projetos sérios e espaços de acolhimento que oferecem apoio real.
Elicarla conhece a Casa Franciscana do Rio de Janeiro, projeto do Sefras - Ação Social Franciscana, desde os tempos em que ainda funcionava como tenda. Ali, encontrou não só refeições e cuidados básicos, mas também atividades que ampliaram seus horizontes: oficinas de segurança alimentar, música, artesanato, reciclagem, empregabilidade, direitos e deveres, rodas de leitura, cine franciscano, encontros de autocuidado, além do “Alô Família”, espaço que permite restabelecer contatos interrompidos pela vida nas ruas.
“A casa é um ponto fundamental. Aqui eu fiz amigos que considero parte da minha família. Às vezes eu vinha não só para almoçar, mas para participar das atividades, para desabafar, para me sentir gente de novo”, contou emocionada durante a entrevista.
Reconstrução e novos caminhos
Durante os anos em situação de rua, Elicarla enfrentou dores profundas, como a perda dos filhos e um relacionamento marcado pela dependência química do ex-marido. Foi na Casa Franciscana que ela encontrou força para recomeçar. O acolhimento possibilitou não apenas momentos de aprendizado e lazer, mas também a reconstrução de vínculos importantes, como a reaproximação com o pai, após muitos anos de silêncio.
“Quando contei para ele que tinha passado no vestibular, a gente voltou a se falar. Isso foi muito especial”, relembra.
Agora, o ingresso na universidade representa mais do que um sonho pessoal: é a chance de transformar em profissão o desejo de apoiar outras pessoas que vivem hoje as mesmas dificuldades que ela enfrentou. “Eu quero ajudar quem precisa de verdade. Através do estudo e da força de vontade, eu sei que posso fazer mais pelas pessoas”, afirma.
A realidade que persiste
Segundo o Censo Pop Rua 2022, o Rio de Janeiro tem mais de 7.800 pessoas vivendo em situação de rua, número que cresceu nos últimos anos e reflete a desigualdade e a precariedade de acesso a direitos básicos. Frente a esse cenário, a Casa Franciscana atua diariamente servindo cerca de 320 refeições, banhos e diversos atendimentos sociais, além de atividades culturais, educativas e de saúde.
Mais do que oferecer assistência imediata, o espaço é pensado como um ponto de dignidade e reconstrução de vidas. Histórias como a de Elicarla mostram que, quando há acolhimento e investimento em projetos sérios, sonhos antes inimagináveis se tornam realidade.
25 anos de impacto
Em 2025, o Sefras completa 25 anos de atuação, e a conquista de Elicarla se soma às tantas transformações possibilitadas nesse período. Ela mesma reconhece:
“Se existissem mais lugares como a Casa Franciscana, muito mais gente conseguiria se reerguer. Aqui não é só comida, é carinho, é abraço, é esperança”.
Elicarla inicia agora sua caminhada universitária com a certeza de que não está sozinha. Sua história é um lembrete de que a solidariedade organizada pode ser a chave para abrir portas que a desigualdade insiste em manter fechadas.
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