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Por que falar de fome é mais que falar de comida?

Atualizado: 15 de fev. de 2023

A fome precisa ser entendida e discutida como um fenômeno estrutural da sociedade capitalista – que divide as pessoas entre ricos, pobres e miseráveis –  e não apenas como uma questão biológica.

Ao olhar o dado trazido no Inquérito da Rede Penssan que mostra que 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil, a referência não é  apenas de pessoas que não ingeriram alimento, mas sim de quem, além disso, não sabe quando vai conseguir comer novamente. Sob essa ótica temos a chamada insegurança alimentar que pode ser dividida em três grupos: a leve, quando há receio de passar fome em um futuro próximo; a moderada, quando há restrição na quantidade ou qualidade de comida para a família; e a grave, nos casos da falta efetiva de alimento na mesa.

Diante de um cenário tão devastador que assola nosso país, é papel fundamental das Organizações Sociais promover, além da distribuição de alimentos para a população faminta, a articulação, o debate, a fiscalização e a cobrança para que o Estado tome medidas definitivas de políticas públicas que combatam a fome de fato. Para que a distribuição de renda, melhoria na educação, incentivo ao trabalho formal sejam parte dos planos de governo como medidas de combate à miséria e à fome.

A partir disso, o Sefras se propõe a estar presente dentro de articulações, incidências e redes que compõem essas discussões.  Entendemos nossa atuação em prol dos famintos mais do que a distribuição direta de comida, mas também participando de maneira propositiva pela busca de soluções definitivas e sustentáveis.

Encontro Nacional Contra a Fome

No fim de junho, o Sefras participou do Encontro Nacional Contra Fome, no Rio de Janeiro, organizado pela ONG Ação e Cidadania. Lá levamos a discussão do combate à fome, a inclusão econômica das populações em situação de vulnerabilidade e a defesa de direitos individuais e coletivos como forma de tornar a sociedade mais justa e menos desigual.

O encontro contou com a parceria de várias organizações da sociedade civil que atuam na temática de segurança alimentar, a CNBB, OXFAM, Frente Nacional Contra a Fome – da qual o Sefras faz parte – e Rede PENSSAN. Contou ainda com especialistas e personalidades importantes no debate para discutir saídas e soluções para frear o avanço da fome no Brasil.

Segundo Talita Guimarães, da equipe de Advocacy do Sefras, “A Fome é resultado de um sistema econômico que desnutri e mata. Debater na perspectiva Franciscana é rever a lógica e o sistema instaurado de exploração e de monetarização da comida.”

O evento foi iniciado na segunda-feira, 20, com uma cerimônia de abertura com falas representativas das entidades presentes e contou com a participação das cantoras Teresa Cristina e Mart’nália, que realizaram um show de abertura.

No dia 21 de junho, foram abordadas as “Causas da Fome”. O Sefras, como uma das organizações que compõem a Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara,  contribuiu na apresentação do  painel   “Imperativo ético pela dignidade humana: denúncia e enfrentamento ao projeto político e econômico da fome; e anúncio da defesa da construção do Bem Viver dos povos”, participaram Bruna Matos,  Talita Guimarães e o diretor secretário do Sefras, Frei Marx Rodrigues.

A palestra apresentou a fome como um projeto político e econômico a partir de uma ótica estrutural e conjuntural, expondo alternativas viáveis para a construção de modos de produção e organização social alternativos. Ainda foi debatido o papel do Estado e das organizações sociais em experiências com economias solidárias, feministas e de povos tradicionais.

O segundo painel tratou da Frente Nacional Contra a Fome sob o comando de Santiago Matos, responsável pela frente no Sefras. A palestra apresentou a iniciativa, que nasceu num contexto de crise emergencial da pandemia, abordando o enfrentamento da fome de forma estrutural e nas suas mais complexas dimensões. Segundo ele, “o encontro serve para fortalecer o papel da Frente Nacional da Fome como um espaço permanente de articulação e organização popular para a Fome como elemento de um projeto político mais perverso”.

Durante o evento também foi lançada a Campanha “Vote Contra a Fome”,  uma iniciativa Frente Nacional e do Sefras, que foi aprovada e contou com a adesão de várias entidades que estavam presentes. A incidência de ação, desta campanha, foi apresentada pela leitura do Manifesto da Fome e Sede, construído pelas organizações que compõem a Frente Nacional Contra a Fome. Ainda, foi destacada a importância da participação da ABEFC – Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara, dentro do cenário econômico e das boas práticas realizadas nos seus territórios de atuação.

Nos demais dias, as palestras abordaram os temas: ‘Consequências da Fome”, no dia 22, e “Soluções para a Fome”, no último dia de evento, 23.

Ao final do encontro as organizações e empresas presentes pactuaram o fortalecimento da sociedade civil, para a construção de estratégias multidimensionais, para enfrentar a pior realidade social brasileira das últimas décadas. O evento contou com a contribuição de personalidades e movimentos sociais que apresentaram propostas para campanhas de mobilização da sociedade, para garantir o direito básico à alimentação com o foco da garantia constitucional.

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