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Sefras no Mês da Consciência Negra: memória e justiça racial

  • Foto do escritor: Melissa Galdino
    Melissa Galdino
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  • 4 min de leitura

No Brasil, onde mais da metade da população é negra (56,1%), a desigualdade racial ainda marca profundamente as oportunidades, a renda, a expectativa de vida e até o direito de existir. Para o Sefras, o Mês da Consciência Negra não é apenas uma celebração simbólica: é um momento de reafirmar o compromisso franciscano com dignidade, justiça e igualdade, princípios que orientam diariamente o trabalho nas casas e projetos da instituição.


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A data de 20 de novembro marca o Dia Nacional do Zumbi e da Consciência Negra. Ela foi escolhida porque corresponde ao assassinato de Zumbi dos Palmares, em 1695 — líder do Quilombo dos Palmares e símbolo máximo da resistência negra à escravização. Zumbi representa coragem, organização coletiva, espiritualidade e luta pela liberdade, valores que continuam inspirando, séculos depois, aqueles que acreditam num país mais justo e humano.


Celebrar a Consciência Negra é reconhecer a história, a cultura e a contribuição da população negra para o Brasil; mas é também encarar a realidade: a renda média de uma pessoa negra no país ainda equivale a apenas 58,3% da renda de uma pessoa branca. Pessoas negras têm 2,7 vezes mais chance de serem vítimas de homicídio. E, embora sejam maioria da população, representam apenas 43,5% das pessoas idosas, reflexo de menor expectativa de vida e acesso desigual a cuidados.


É nesse contexto que as casas do Sefras realizaram atividades socioeducativas ao longo de novembro, reforçando que nossa missão é também lutar contra desigualdades estruturais e promover autonomia, autoestima, pertencimento e cidadania.


Os Perfeita Alegria

Infância, autoestima e empoderamento para quebrar ciclos de desigualdade



Com crianças e adolescentes, as atividades se concentraram na dimensão lúdica: rodas de conversa, brincadeiras, oficinas e vivências que trouxeram reflexões sobre identidade, beleza negra, ancestralidade e a importância da luta antirracista. As famílias também foram envolvidas, ampliando o diálogo dentro das casas e das comunidades.



O projeto do Jardim Pery Alto também participou da Marcha Contra o Racismo, uma experiência poderosa de pertencimento e cidadania para crianças que, muitas vezes, são as primeiras a sofrer discriminação racial.



Trabalhar o tema na infância é essencial. O racismo estrutural afeta crianças negras desde cedo — e de forma brutal. Segundo o Instituto Sou da Paz, crianças e adolescentes negras de até 14 anos morrem por armas de fogo 3,6 vezes mais do que crianças não negras. Essa realidade evidencia o quanto a desigualdade racial ameaça vidas desde a infância.



Ao longo da vida, esses mesmos jovens continuam expostos a desigualdades profundas: trabalhadores brancos recebem muito mais por hora trabalhada que trabalhadores pretos ou pardos; e a informalidade atinge com mais força a população negra. Por isso, trabalhar autoestima, proteção, pertencimento e perspectiva de futuro desde cedo é fundamental.



Casa de Assis — Imigrantes

Negritude, pertencimento e participação social além das fronteiras


Na Casa de Assis, que acolhe imigrantes de diversas origens, o Mês da Consciência Negra foi dedicado a diálogos sobre o significado da data no Brasil, a história da negritude no país e a importância da luta antirracista mundialmente.


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A atividade buscou conectar experiências: muitos imigrantes negros também enfrentam xenofobia, racismo e dificuldades socioeconômicas. Compreender a história brasileira os ajuda a entender o contexto em que estão inseridos e a fortalecer laços de pertencimento.


O grupo também participou da Marcha da Consciência Negra na Avenida Paulista — gesto simbólico de exercício de cidadania e integração, mostrando que a luta contra o racismo é internacional e profundamente humana.


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Casas de Clara — Pessoas idosas

Histórias, políticas públicas e o mito da igualdade racial



Entre as pessoas idosas, o trabalho foi pautado em memória e reflexão:

  • Como era a vida da população negra no passado?

  • Quais avanços já foram conquistados?

  • O que ainda precisa ser transformado?

  • Como o mito da “democracia racial” impede reconhecer desigualdades reais?


Os participantes puderam tirar dúvidas, compartilhar trajetórias pessoais, discutir políticas públicas e pensar coletivamente um futuro com mais equidade.



Essas conversas ganham força quando analisamos os dados: embora pessoas negras sejam maioria da população, representam apenas 43,5% entre os idosos. A desigualdade na longevidade é evidente: homens brancos vivem, em média, 5,9 anos a mais do que homens negros. Essa diferença deriva de diversos fatores — acesso desigual à saúde, saneamento, renda, segurança e condições de bem-estar ao longo da vida.


Assim, promover saúde, cuidado e cidadania entre idosos negros é também uma forma de reparar desigualdades históricas.


Casas Franciscana — Pessoas em situação de rua

Aquilombamento da rua: identidade, território e resistência



Nas Casas Franciscana, o debate se estruturou a partir de mesas sobre identidade, território, religião e cultura — construindo o que se chamou de “aquilombamento da rua”. Um espaço de troca que reconhece a ancestralidade, afirma a dignidade e estabelece vínculos comunitários mesmo em situações de extrema vulnerabilidade.



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Esse diálogo é urgente: a população em situação de rua no Brasil é majoritariamente negra. A falta de moradia é reflexo direto de desigualdades que vêm desde o pós-escravidão, quando a população negra foi deixada sem reparação, sem terra, sem acesso a educação e a direitos básicos. Hoje, a pobreza atinge 40% da população negra — quase o dobro da registrada entre brancos (21%). E famílias chefiadas por mulheres negras, sem cônjuge e com filhos, estão entre os grupos mais vulneráveis.

Falar sobre negritude com pessoas em situação de rua é reafirmar que elas não são invisíveis: são parte da história, da sociedade e devem ser reconhecidas em sua humanidade.


Por um Brasil mais justo — compromisso franciscano, compromisso contínuo

Os números mostram que a desigualdade racial no Brasil é estrutural — atravessa renda, trabalho, educação, saúde, violência, moradia e expectativa de vida. Por isso, celebrar o Mês da Consciência Negra não é apenas lembrar Zumbi: é reconhecer que sua luta continua necessária.
O Sefras, presente nos territórios onde a desigualdade se manifesta com mais força, reafirma seu compromisso franciscano de cuidado, acolhida e transformação social.
Cada atividade, oficina, marcha, roda de conversa ou mesa de diálogo é uma semente plantada na construção de um país onde todas as pessoas — negras, brancas, brasileiras, migrantes, crianças, jovens, adultos ou idosos — possam viver com dignidade.

Zumbi sonhou com liberdade. O Sefras trabalha para que esse sonho seja real para todos.

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