Sefras celebra 25 anos de missão: herança que cuida, esperança que transforma
- Melissa Galdino
- há 3 horas
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O Sefras - Ação Social Franciscana - celebrou, em São Paulo e no Rio de Janeiro, seus 25 anos de fundação em clima de reverência ao passado e esperança no futuro. Sob o lema “Herança, cuidado e missão: cuidar da vida, preservar o futuro”, o jubileu reuniu frades, trabalhadores, voluntários e participantes das casas franciscanas, num encontro que misturou arte, espiritualidade e memória coletiva.
A festa começou com a mística conduzida por Frei Tiago Elias, vice-presidente do Sefras, e pela Irmã Joselma Anjos, que relembraram a trajetória de Francisco e Clara de Assis como inspiração para os novos tempos. Trechos de poesias e reflexões foram lidos por trabalhadores, que introduziam as apresentações das casas. Era um fio condutor: palavra, gesto e arte se entrelaçavam como uma grande narrativa viva sobre os 25 anos da instituição.

Em sua fala, Frei Vagner Sassi, diretor-presidente, destacou o caráter jubilar da celebração: “Vivemos um ano especial. São 800 anos do Cântico das Criaturas, 350 anos da Província Imaculada Conceição e 25 anos do Sefras. Essa história só faz sentido pelas pessoas que a constroem todos os dias. Somos herdeiros do sonho de São Francisco, que não se contentou em contemplar o mundo, mas o transformou pelo cuidado. Hoje, renovar os votos com os 25 anos do Sefras é assumir nossa missão de lutar por um mundo mais justo e fraterno.”
As apresentações artísticas reforçaram esse espírito. A Casa Perfeita Alegria, do Peri, trouxe o som delicado das escaletas, encantando o público. A oficina musical, realizada desde 2018, é hoje uma referência no território. “As crianças sempre respondem com estímulos positivos quando damos uma base sólida de conhecimento”, explicou a coordenadora Ângela Assis. Logo em seguida, a Casa de Assis apresentou uma dança alegre, com roupas coloridas, simbolizando os recomeços que os imigrantes encontram ao serem acolhidos. O público foi convidado a participar, dançando e gesticulando em agradecimento. Já a Casa de Clara emocionou com uma coreografia inspirada na clássica What a Wonderful World, lembrando que sonhar com um mundo melhor é também uma forma de cuidado.
As místicas lidas ao longo da celebração deram ainda mais densidade espiritual ao jubileu. Textos como “800 Anos de Paz: A Ternura como Missão” e “Francisco e os Estigmas do Mundo” ecoaram como orações poéticas, trazendo para o presente a atualidade da mensagem franciscana.
Um trecho ressoou forte: “Ser francisclariano é carregar esse legado não como peso, mas como bênção. É viver a leveza do Evangelho com os pés no chão e os olhos no alto. E escolher a paz como linguagem, o serviço como caminho, a solidariedade como resposta.”
Frei Tiago Elias, ao relembrar que 17 de setembro é também o Dia das Chagas de São Francisco, destacou a dimensão espiritual do momento: “Assim como Francisco foi abraçado por Cristo, nós também somos chamados a abraçar os crucificados da história, aqueles que sofrem nas ruas, nas periferias, nos deslocamentos forçados. É nesse abraço que nossa missão ganha sentido.”
A festa encerrou-se com uma dança ancestral, lembrando que o cuidado franciscano é herança transmitida de geração em geração, enraizado na memória dos povos e aberto ao futuro.
Um resgate histórico
Celebrar 25 anos é também revisitar a própria história. O Sefras nasceu no final da década de 1990, fruto da inquietação dos frades da Província Franciscana da Imaculada Conceição diante da crescente exclusão social nos grandes centros urbanos. A cena das ruas de São Paulo — com famílias inteiras em situação de miséria — interpelava diretamente o carisma de São Francisco, que sempre se aproximou dos que mais sofrem.
Foi no Largo de São Francisco, em São Paulo, onde os frades mantinham diálogo constante para a primeira articulação concreta. Ali, entre reuniões simples, um computador velho e muita vontade de servir, começava a se desenhar o sonho de criar uma obra social estruturada, capaz de transformar solidariedade em ação contínua.

Em 2000, esse sonho se consolidava oficialmente com a fundação do Sefras. Nasciam, assim, as primeiras casas.
Ao longo de 25 anos, o Sefras se consolidou como referência no atendimento social, chegando hoje a 18 territórios em 7 cidades, com 17 casas de atendimento diário. Essa rede tornou-se sinal concreto da presença franciscana junto aos pobres, às periferias, aos imigrantes, às pessoas idosas, crianças e a todos que mais precisam.
A missão em números

O impacto dessa trajetória pode ser visto em dados recentes. Hoje, o Sefras garante:
670 vagas para crianças, adolescentes e famílias;
320 vagas para pessoas idosas;
177 vagas para imigrantes e refugiados;
1.050 vagas para pessoas em situação de rua;
120 vagas para pessoas atingidas pela hanseníase.
Somente no último ano, foram servidas 1.206.584 refeições, o que equivale a mais de 4 mil refeições por dia, garantindo alimento e dignidade para quem mais precisa. Também foram realizados 122.344 banhos e distribuídos 54.689 kits de higiene. Em noites frias, foram garantidos 24.278 acolhimentos e 1.453 repousos noturnos.
Além disso, a instituição realizou 38.766 atendimentos técnicos, 28.699 encaminhamentos para políticas públicas e ofereceu 111 cursos de qualificação profissional, inserindo 360 pessoas no mercado formal de trabalho.
Essas ações são sustentadas por uma rede de 285 trabalhadores, 997 voluntários e 48 prestadores de serviço, além de 219 parceiros institucionais. Como lembrou Frei Vagner Sassi, são as pessoas que dão sentido e vida ao Sefras, formando uma comunidade de cuidado e solidariedade.
Uma missão que continua
Os 25 anos do Sefras não são apenas uma marca de tempo, mas a confirmação de uma missão que permanece necessária e urgente. Em tempos de desigualdade, fome e exclusão, o jubileu reafirma que o cuidado é caminho, a ternura é linguagem e a solidariedade é a resposta.
Mais do que olhar para trás, a celebração apontou para o futuro. Um futuro inspirado no sonho de São Francisco e Clara, alimentado pela dedicação diária de trabalhadores e voluntários, e iluminado pelo desejo de construir um mundo mais justo e fraterno.
O Sefras, ao completar 25 anos, renova não apenas sua trajetória, mas também sua esperança. Porque o jubileu não é ponto de chegada, mas impulso para seguir: enquanto houver vida a cuidar, haverá Sefras.
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