CRAI Oriana Jara celebra 11 anos e divulga balanço que destaca o impacto social do serviço
- Melissa Galdino
- 16false32 GMT+0000 (Coordinated Universal Time)
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O Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes (CRAI) Oriana Jara celebrou seus 11 anos de atuação com um evento especial aberto ao público, reunindo palestras, apresentações culturais e um panorama detalhado dos atendimentos realizados ao longo do período. A data marca mais de uma década de acolhida, defesa de direitos e políticas públicas voltadas às populações migrantes da cidade de São Paulo.
Durante a abertura, Frei Vagner Sassi, representante do Sefras, destacou a trajetória conjunta da entidade e do CRAI, ressaltando a força do compromisso humanitário:
“O Sefras completa 25 anos, e seguimos o lema de Francisco de Assis: acolher, cuidar e defender. Este equipamento, que hoje completa 11 anos, é referência nacional e internacional. É uma data de memória, gratidão e compromisso de estar ao lado daqueles que mais precisam.”

O vice-presidente do Sefras, Tiago Elias, enfatizou a potência do trabalho desenvolvido, muitas vezes invisível ao olhar público, mas transformador na vida das pessoas migrantes:
“Essa construção parece ser invisível, mas revela um lindo tecido social. Aqui, construímos pontes na contramão do mundo.”
Representando a Secretaria Municipal de Direitos Humanos, a secretária adjunta Stella Verzolla destacou o pioneirismo do equipamento ao longo da última década:
“Onze anos não são dias. Precisamos celebrar esse serviço que se tornou vanguarda. A história da cidade de São Paulo sempre foi escrita por imigrantes.”
A coordenadora de Políticas para Imigrantes e Promoção do Trabalho Decente, Gabrielle Dias, reforçou a centralidade do CRAI na política migratória municipal, destacando que o serviço “mantém viva a garantia de direitos, a integração social e o acolhimento qualificado baseado na dignidade humana”.

O que os dados revelam sobre a realidade migratória na cidade
Os números apresentados pelo CRAI traçam um retrato claro da importância estratégica do equipamento na rede de proteção social da cidade. O balanço evidencia não apenas o crescimento da demanda, mas também a complexidade e a diversidade dos perfis atendidos.
O primeiro dado que chama atenção é o aumento contínuo dos atendimentos: mais de 52 mil registros desde 2020, com crescimento constante ano após ano. Em 2025, já são 13.008 atendimentos — o maior número da série histórica. Isso demonstra tanto a intensificação dos fluxos migratórios quanto o fortalecimento do CRAI como porta de entrada para imigrantes em busca de regularização, acolhimento e acesso a direitos.
A regularização migratória é hoje a principal necessidade, somando 10.824 atendimentos, quase mil atendimentos por mês. A maior parte está relacionada ao Acordo de Residência Mercosul, autorizações e renovações de residência, pedidos de refúgio e processos de naturalização. Os dados confirmam que a documentação é o primeiro passo para a construção de uma vida estável no país, permitindo acesso a serviços públicos e oportunidades de inserção no mercado de trabalho.

A diversidade do público atendido impressiona: pessoas de Angola, Bolívia, Venezuela, Cuba, Guiné-Bissau, Síria e Haiti formam a maior parte dos usuários, refletindo diferentes realidades — desde migrações motivadas por crises econômicas até deslocamentos forçados e humanitários. A faixa etária predominante, entre 18 e 49 anos, mostra que o CRAI atende principalmente pessoas em idade produtiva, embora muitas enfrentem barreiras significativas: 40% não possuem renda, 428 vivem em moradias irregulares e 378 estão em situação de rua.
O serviço também atua na proteção de populações expostas a violações de direitos: foram registrados 60 casos de violência física, psicológica ou verbal; 18 situações de trabalho análogo à escravidão; e 25 crianças ou adolescentes desacompanhados. Esses números revelam um cenário grave de vulnerabilidade e reforçam o papel do CRAI na articulação com a rede de proteção para garantir segurança e acompanhamento especializado.
Outro ponto relevante é a diversidade de gênero, orientação sexual e raça. Além da maioria cis, o equipamento atende pessoas trans, não binárias, agênero e travestis. Na dimensão racial, a predominância de pessoas pretas e pardas expõe como desigualdades estruturais se sobrepõem às barreiras migratórias. O CRAI, nesse sentido, se posiciona como um espaço de acolhimento interseccional, preparado para múltiplas identidades e trajetórias.

A territorialidade dos atendimentos também revela dinâmicas importantes: República, Bela Vista, Sé, Brás e Itaquera são os distritos com maior número de imigrantes atendidos — regiões marcadas tanto por oportunidades de trabalho informal quanto por condições precárias de moradia. Já a atuação do CRAI Móvel, com mais de 1.500 atendimentos e presença em 37 distritos, amplia o acesso ao serviço e descentraliza a política migratória, atingindo bairros periféricos.
Em síntese, os dados mostram que o CRAI é um equipamento essencial para enfrentar desigualdades, garantir direitos e promover a inclusão de pessoas migrantes na cidade. A série histórica revela uma política pública viva, estratégica e comprometida com a dignidade humana — missão que tem no Sefras um parceiro fundamental.




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