top of page

O que não te contam sobre a COP30: Sefras lança boletim sobre o tema 

  • Foto do escritor: Melissa Galdino
    Melissa Galdino
  • 4 de set.
  • 4 min de leitura



O Sefras – Ação Social Franciscana, além de sua atuação cotidiana junto a pessoas em situação de vulnerabilidade, tem assumido também um protagonismo no debate socioambiental. Às vésperas da COP30, que pela primeira vez será realizada na Amazônia, em Belém, a organização se soma a diferentes movimentos e redes que buscam ampliar a participação dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais nos espaços globais de decisão sobre o clima.


Capa do boletim
Capa do boletim

Como parte dessa mobilização, o Sefras lança, em parceria com a Revista Xapuri, uma série de três boletins que explicam de forma acessível o funcionamento das COPs e o papel desses povos e comunidades na governança ambiental internacional. O primeiro deles, intitulado “O que não te contaram sobre as COPs”, já está disponível e abre caminho para ampliar o debate até a conferência em 2025.


Conversamos com Francisco Octávio Bittencourt de Sousa, conhecido como Chico, responsável pela organização do material, que falou sobre a motivação da publicação, a missão franciscana diante da crise climática e as expectativas para a COP30 no Brasil.



Por que o Sefras decidiu produzir essa série de boletins sobre as COPs?


 O Sefras é parceiro histórico da Rede de Fundos Comunitários da Amazônia. Acompanhamos a rede desde sua criação, em 2022, no Fórum Social Pan-Amazônico, e já produzimos uma pesquisa sobre os fundos comunitários. Percebemos uma mobilização intensa em torno da COP30, que pela primeira vez será realizada na Amazônia, e vimos a necessidade de traduzir esse debate para as bases.


Confesso que dediquei os últimos dois anos a estudar governança ambiental global e, muitas vezes, fiquei desmotivado: as metas climáticas não têm sido cumpridas, estamos muito distantes do financiamento necessário e as últimas conferências foram até chamadas de petroCOPs, pelo peso do lobby do petróleo. Mas, diante da mobilização da rede e dos movimentos comunitários, entendi que não havia espaço para o desânimo. Os boletins surgem justamente para suprir lacunas de formação e apresentar os conteúdos da COP de forma acessível.



Esse trabalho tem uma continuidade com a Rede de Fundos. Como foi esse percurso?


 Já tínhamos uma trajetória conjunta com a Rede. O Sefras esteve presente na gênese, no encontro dos Diálogos Amazônicos em 2023 e depois na pesquisa sobre o ecossistema de financiamento climático. Também facilitamos dois intercâmbios da Rede: o primeiro em Esperantina, no Maranhão, junto às quebradeiras de coco babaçu, e o segundo em São Gabriel da Cachoeira, no início deste ano, quando discutimos justamente uma agenda coletiva para a COP30. Os boletins nascem nessa continuidade da parceria.

ree

Qual é a relação entre a missão franciscana do Sefras e o tema das mudanças climáticas?


 Essa é uma conexão muito forte. As mudanças climáticas não afetam todos da mesma forma. Quem mais sofre são as populações que vivem diretamente da floresta, os pobres urbanos, as pessoas em situação de rua. Essas pessoas não têm como “se adaptar”, para usar o termo que está na moda.


Lembro de uma fala das quebradeiras de coco-babaçu numa pré-COP que traduz isso: “Quem fica o dia inteiro no escritório com ar-condicionado não sente as mudanças climáticas como a gente, que está no babaçual devastado, na Amazônia queimada, ou debaixo do sol no asfalto, cozinhando vivo.” O Sefras trabalha justamente com esse público mais vulnerável, e é aí que a missão franciscana encontra o tema climático.



Esse é o primeiro de uma série de três boletins. O que podemos esperar das próximas edições?


 Até a COP30 vamos lançar três boletins. Todos vão tratar de temas ligados à participação de povos indígenas, comunidades tradicionais e afrodescendentes — quilombolas, no caso do Brasil. A parceria com a Revista Xapuri surgiu quase como um encontro de histórias.


Durante uma atividade da Rede em Alter do Chão, visitei o Pablo, do Fundo Puxirum, e ele me mostrou materiais produzidos em conjunto com a Xapuri. Naquele momento, ficou claro que havia uma sintonia e uma oportunidade de juntar forças para construir esse material formativo.



O boletim fala em “o que não te contam sobre as COPs”. O que geralmente fica de fora desses debates?


 Muita coisa. A primeira é o quanto essas conferências ainda estão distantes das bases. Outro ponto é que, mesmo sendo espaços de negociação global, muitas decisões são atravessadas por lobbies econômicos e interesses políticos. O financiamento climático, por exemplo, está muito aquém do prometido, e isso compromete a vida das comunidades que dependem desses recursos.



Quais os principais entraves que impedem povos e comunidades tradicionais de serem ouvidos nas COPs?


 O primeiro entrave é estrutural: essas conferências não foram pensadas para incluir de verdade as vozes indígenas, quilombolas e ribeirinhas. São espaços muito técnicos, dominados por governos e corporações. Outro ponto é a falta de financiamento adequado para garantir que essas populações participem. Sem recursos, fica difícil levar representantes das comunidades até esses espaços.

ree

E qual é o papel da sociedade civil nesse cenário?


 É fundamental. São os movimentos sociais, as organizações comunitárias e redes como a nossa que pressionam para que a pauta climática não seja capturada apenas pelos interesses de mercado. A sociedade civil é quem tem a capacidade de aproximar o debate global da realidade local.



O que significa para você a COP30 acontecer em Belém, no coração da Amazônia?


 É histórico. Pela primeira vez a Amazônia será o centro das negociações climáticas. Isso traz uma oportunidade única de dar protagonismo aos povos que vivem na região, mas também um risco: o risco de a conferência se transformar em apenas um grande palco, sem mudanças concretas. O desafio é garantir que não seja uma COP de marketing, mas uma COP de compromissos reais.



Que expectativas você tem para a COP30?


 Minha expectativa é que seja um marco para a participação popular. Que indígenas, quilombolas, ribeirinhos e comunidades tradicionais não sejam apenas convidados a falar, mas que estejam no centro das decisões. É hora de reconhecer que são eles os verdadeiros guardiões da floresta e do clima.



E qual o legado que você espera deixar com esses boletins?


 Queremos que sirvam como ferramenta de formação e de mobilização. Que ajudem as comunidades a entender como funcionam as COPs e a se preparar para participar delas de forma crítica e ativa. O boletim não é só para explicar, mas para fortalecer uma agenda coletiva que vai muito além da COP30.


Comentários


bottom of page